segunda-feira, 8 de outubro de 2012

GERALDO, A MULHER E FERNÃO - CONTO.


Geraldo, a mulher e Fernão

Um dia, eu conheci uma pessoa assim:
Ela amava tão intensamente e tão entusiasticamente, mas o seu ciúme suplantava este amor que ela sentia tão fortemente... Aparentemente ela amava muito. Ele (seu ciúme) mandava nela e ela tentava mandar em seu homem, de tal maneira tão inconsequente, que o oprimia involuntariamente, já que no fundo, ela também sofria muito.

Eu ficava intrigado, porque embora fosse tão veemente sua vontade de prender o seu amado, ela vivia o paradoxo de sua própria liberdade, como se ela fosse um carcereiro de seu amor e seu amor um prisioneiro de seu ciúme. Isto, inclusive, sem admitir sua liberdade cerceada na mesma proporção.

Depois das conjecturas imaginativas com farturas de coisas inexistentes, ela chorava desesperada e lhe pedia perdão com a mesma veemência com que o julgava e o condenava, bem antes até de que ele soubesse a causa.
Depois das brigas, ela o seduzia como uma víbora e fazia amor intenso, como forma de demonstrar seu amor e sua paixão aloucada. Era uma fera alucinada, naqueles cavalgares de posições e lugares. Suas fantasias eram infindas.

- Eu me lembro até de um tempo, em que certos homens, diziam: “O homem não precisa saber por que está batendo; porque a mulher saberá bem por que está apanhando!” Era um pensamento estranhamente machista de homens ciumentos que queriam – à força do medo - ter fidelidade absoluta, e jamais perder aquela mulher que “diziam que amavam” Ela não era o homem que batia ou que apanhava, mas era a mulher que o sufocava, com seus ciúmes na mesma proporção violenta com que aqueles homens praticavam seus medos da perda.

O meu amigo, que me confidenciava esta sua situação, já havia sido casado, e me dissera ele, que a sua primeira mulher era uma “mosca morta” então, talvez por isso, esta fera felina, que o feria e o amava e o enciumava tanto, como se ela fosse uma adolescente - marinheira de primeira ida - o deixava enlouquecido, sofrido, e ambos apaixonados, ao mesmo tempo.

Ela era linda e de belas coxas, que sempre - como se buscasse nele o mesmo teor de ciúmes, pois considerava ser amor, este sentimento opressor - deixava meio que à mostras essas suas partes convidativas, de formas provocativas. Mas como ela o enciumava em demasia, e lhe sugava todas as forças naquele seu amar intenso e seguido, ele não a enciumava, na verdade, ele nem notava sua carência em ser notada e também enciumada. Vivia absolutamente saciado, talvez nem em seus momentos íntimos, ele as visse, como ela gostaria.

Mas ela, por aquele sentimento opressor, pensava que ele não a amava tanto, como ela merecia, pois além de não perceber os ciúmes dele, ainda lhe parecia sempre estar na carência de saciar-se completamente. Seria ela daquelas mulheres insaciáveis, que ouvimos falar? O pobre homem era engolido para não ser homem, mas ai dele se se recusasse a ser. Isso era como um grilo grilando em minha cabeça. Além do quê, sempre que ela queria aprontar alguma, ela atacava de ciúmes só para virar a cara e o deixar com cara de culpado.

Certo dia eu acordei no meio da noite e olhei para minha companheira por alguns instantes, vi que ela dormia profundamente; levantei-me e dei por mim reparando uma moldura de sombra refletida na parede branca da sala, algo estranho formava-se com a sombra, uma silhueta mística, cuja mistura branca com mancha meio escurecida, vindo da cortina da janela da sala, moldava aquelas coxas bem feitas, lisas e bonitas, desta referida mulher de meu amigo.

- Meu Deus... O que é isso?  Perguntei-me, quase em silêncio. Ainda observando aquela imagem confusa refletida na parede, fui e voltei algumas vezes até a porta do quarto para tentar voltar a dormir, e acabei por ficar ali olhando para a sombra, por não sei quanto tempo.
- Será que as confidências de Geraldo estão me aguçando esta visão? – pensei sem acreditar muito e ainda me sentir confuso. Tentei deixar de lado aquilo e ir dormir, o que foi impossível. Não consegui!

Rolei na cama até de manhã sem conseguir adormecer novamente, depois me levantei e sem querer ou designar meus passos, me vi caminhando ao encontro de Geraldo.
- Bom, dia! Eu disse fingindo entusiasmado a ele. Embora eu também não tivesse dormido bem.
- Bom dia! Disse-me ele com cara de sono e abatido, como alguém que havia trabalhado a noite toda embaixo de chibata.

- Amigo, acho que vou ter que procurar ajuda! – me disse Geraldo, sabendo que eu o entenderia e saberia do que me falava.
- Ora amigo, sabe que pode contar comigo! – Exclamei involuntário sem perceber que estava sendo oportunista e que daquela conversa, eu poderia lucrar alguma coisa. Na verdade eu nem dei por fé sobre a coincidência do acaso. 
- Mas o que você poderia fazer para me ajudar, sem provocar a fera contra mim. – De antemão já me perpassou uma porção de coisas na mente,  mas consegui me conter e dizer a ele que me aguardasse, pois precisaria de um tempo para achar algo conveniente.

Eu tinha uma loja de eletrônicos e meu amigo Geraldo, trabalhava em outro seguimento. Despedimos-nos e eu fui para o meu trabalho, e na minha loja, eu me sentia excitado com aquela ideia de poder estar perto daquela mulher atraente e sentir aquele perfume, que de longe eu já gostava de sentir, e que também de tanto ele me contar seus arroubos, eu ficava entre o medo e a curiosidade de ouvir sua fala e algum trejeito que por acaso me faria desprender da timidez e acabar lhe dizendo algum desejo recôndito. Não sei, mas talvez no fundo, eu sentisse um pouco de inveja dele. Mas, e se ela tiver um surto e me bater nas faces, ou me xingar e contar ao Geraldo.
- Além de tudo vou perder o amigo! – refleti falando comigo mesmo, acompanhado, talvez, de algum anjo moralista.

No dia seguinte evitei falar com o Geraldo e mudei de caminho para não encontrá-lo, mas por volta das dez horas, percebi alguém chegar a minha loja e dei de cara com a mulher do amigo, confesso que fiquei sem fala por alguns segundos e a olhei nos olhos castanhos profundos sem dizer nenhuma palavra, então ela me disse:
- O senhor poderia ir a minha casa para ver nosso televisor, parou de funcionar ontem à noite! E, se calou esperando minha resposta. Dentro de um silêncio de alguns segundos, eu lhe respondi dizendo que sim eu poderia ir.

Ela se virou para sair e eu fiquei a olhar teus quadris, como se estivesse sendo puxado por eles, só depois de alguns minutos quando já estava recomposto do susto, pude juntar minhas ferramentas e colocá-las em uma maleta e sair para atendê-la. Quando eu cheguei lá ela veio me receber e tinha um sorriso meio escondido e entre dentes, como se arquitetasse alguma molecagem, como aquelas crianças peraltas, (que todos nós, conhecemos).

Em pé na porta, a espera do comando dela, por um instante, enquanto ela vinha em minha direção, fiquei. Assustei-me, entretanto, quando ela esticou sua mão e me pegou pelo braço dizendo-me:
- Sente-se, por favor... Estava com a cabeça abaixada quando eu a olhei fitando-a sem esperar que me retribuísse. Mas ela, como se sentisse, me retornou o olhar repentinamente, e foi me dizendo:
- Meu marido me disse que esteve conversando com o senhor sobre meu relacionamento com ele... Ele se queixou de alguma coisa em especial?  Ele me disse que confia muito no senhor, e, isso é muito!
- Não, sim... Gaguejei. Ele me disse que a senhora é muito ciumenta e muito ávida!
- Ávida... Ele disse que eu era ávida?  É... Acho que ávida está bom, sou ávida pelo amor, o senhor me entende?
- Sim, acho que sim... – Disse eu meio sem saber como colocar outras palavras. Então depois destes preliminares, ela se aproximou do lugar em que eu sentava e colocou sua mão direita sobre o meu joelho. Deixou-se ali por um tempo e depois retirou, talvez vendo meu meio constrangimento silencioso.
- Será que o senhor poderá nos ajudar, sinto que o meu marido está se acabando...Tenho medo até de que ele arrume outra esposa.
– Bom! Eu disse, pensando: se vocês me permitirem eu posso tentar.
- Na verdade, senhor Fernão, eu é que tenho que consentir, por que meu marido não terá cabeça para fazer isso, creio que ele esteja precisando de alguns dias de descanso, coisa que o senhor compreende de que sendo assim, teremos muito tempo para aprender, não é?
- Principalmente eu. Não é senhora? Arrisquei.
- Que isso senhor Fernão, deixe de falsa humildade... – Deu um risinho de canto de lábios, para apagar a feição vexada.

O tempo parecia voar para mim, por que temia a chegada de seu marido para o almoço e ele poderia pensar coisas indevidas a nosso respeito, já que ela estava tão próxima de mim, que tive impressão de ouvir seu sugar de ar.
E eu não via a hora de sair correndo, sem esquecer as ferramentas, é claro.
- E a televisão que estava com defeito? - Tentei falar com voz firme.
- Ah, sim! É aquela ali, ontem não quis funcionar de jeito nenhum...
- Me levantei e fui ligar o aparelho para ver o resultado, mas quando liguei, o aparelho funcionou normalmente. Demonstrando que não havia nada de errado com ele.
- Senhora! - Chamei-a - pois ela havia saído da sala e entrado no quarto.
- Sim, vou indo! - Respondeu-me de onde estava. Passados alguns minutos ela voltou e veio ter comigo, só que agora vestia outra roupa, muito mais informal e atraente, senti um certo frescor vindo dela como se me tivesse chegado uma fonte de água.
- Sua televisão não me parece com defeito!
- Ah... Não? Pois bem, sendo assim, poderemos começar agora mesmo com aquela ajuda que o senhor prometeu, o que acha? Disse e em seguida deu dois passos... Fui literalmente pego de surpresa!
 - Bem... Eu acho que... Bom não sei... Será que...gluss! hum!.. Bom... Não sei...


Fim.

O trabalho (Conto) - GERALDO, A MULHER E FERNÃO de ZéReys - poeta do profundo, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada. Com base no trabalho disponível em http://www.facebook.com/zedosreys.
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zedosreys@gmail.com  

Um comentário:

  1. Meus Deus que beleza este conto.

    Me identifiquei com a personagem que muita ama, ciumentíssima, insegura e possessiva.....no entanto é preciso mudar, pois este perfil colaborou com um rompimento que até hoje dói...

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A fé de uma pessoa está relacionada com aquilo que ela mais precisa, pois em caso contrário, ela não precisaria de nada.

ZéReys.